domingo, 16 de janeiro de 2011

A ERA DO AMOR

O dia fora especialmente cálido.
Mesmo ao declinar da tarde, permaneciam no ar as correntes tórridas que sopravam desagradáveis. A mensagem de libertação espraiava-se por toda parte, já impossível de ser de ida.
O Mestre conseguira tornar-se a esperança das multidões saturadas pelos sofrimentos e sem mais amplas aspirações em relação ao futuro.
Todos O viam como sendo a resposta de Deus às inumeráveis necessidades da criatura humana.
Ao tempo, no entanto, que o Seu verbo derramava as bênçãos de paz e alento entre os sofredores, os que se permitiam a dominação arbitrária das consciências e do comportamento do povo, se levantavam contra Ele, tentando embaraçá-lO, denegrir-Lhe o conteúdo da palavra, lançá-lO contra a rigidez da Lei Mosaica...
Na oportunidade, leniam os corações, os ensinamentos a respeito do amor, do perdão das ofensas e da compreensão das faltas do próximo, provocando acirrados debates entre os Seus adversários gratuitos, que O acusavam de contrariar o Estatuto legal vigente, herança enfermiça dos princípios de talião.
Foi tomado pelo rancor, face à serenidade do senhor, que Nathan Ben Assad, fariseu conhecido pela conduta excessivamente austera, procurou o Amigo dos infortunados e Lhe indagou, arrogante, em plena praça, na risonha e bela Cafarnaum:
- Tu ensinas - perguntou-lhe com desdém - o amor irrestrito e o perdão incessante, em quaisquer circunstâncias e a todas as pessoas?
A interrogação direta recebeu uma resposta imediata e clara.
- Sim.Do contrário não é legítimo o amor que se limita a circunstâncias e se circunscreve a indivíduos especiais. O verdadeiro amor é atitude interior que se expande como acontece com o ar, que a tudo e a todos vitaliza.
- Mesmo àqueles que fomentam o ódio, que se tornam execrandos pelos crimes que perpetam?
- Sem dúvida. A todos estes, porquanto mais do que os outros, eles se encontram enfermos e necessitados, carecendo da terapia do amor, a fim de se recuperarem do mal que os afligem, tornando-se, então, cidadãos úteis ao conjunto social.
- E o criminoso insensível - retrucou com a face congestionada pela cólera surda que o dominava
- Não deve ser justiçado pelas cortes encarregadas de preservar a paz e a ordem, defendendo os fracos?
- Justiçar - redarguiu Jesus, sereno - não significa punir, revidar com o mal, o mal que foi feito, tripudiar sobre as suas misérias e ulcerações morais .... Justiçar, deve ser, antes de tudo, propiciar a oportunidade da reparação, de educação do revel para a vida digna.
"Na raiz de muitos males encontramos a ignorância como geratriz de todos esses infortúnios.
" O criminoso é um enfermo, vitimado em si mesmo por desequilíbrios que ignora. Adicionados a essa causa, há os fatores sociais, econômicos, emocionais, que fomentam a alucinação a desbordar no crime, na delinquência..."
- Não será justo, então, segundo o teu código, matar legalmente aquele que mata, cobrar "olho por olho e dente por dente", daquele que desgraçou outrem, roubou-lhe a vida, di lapidou o patrimônio alheio.
A lei de amor procede do Pai, Causa lncausada do Universo, que estabelece o equilíbrio nas leis naturais como regra da felicidade e de ordem no Cosmo ... Punir, é reagir com ódio; cobrar erro com vingança é ser pior do que o delinqüente, pois que este é infeliz, enquanto o Juiz, em nome da sociedade e graças ao conhecimento que possui deve ser sadio emocionalmente e equilibrado nas suas decisões, a fim de ser melhor do que o criminoso.
"Somente o ódio é vingador; e como a vingança expressa o estágio de primitivismo da criatura, esta não pode ser trazida ao código das leis em nome da Justiça".
- Será, então, lícito, deixar o criminoso à solta, a fim de que ele prossiga na sua carreira destrutiva?
- Não chegaremos a tanto. A técnica do amor receita para o delinqüente a terapia do afastamento temporário da sociedade, qual ocorre com um doente portador de contágio, a fim de ser devidamente tratado. para posterior reintegração na comunidade dos sadios.
E olhando fixamente o inquiridor, com doçura mesclada de sabedoria, o Mestre tentou encerrar a entrevista, dizendo:
- Matar o assassino não restitui a vida à vítima; amputar os dedos ou as mãos ao ladrão, não devolve o furto ao seu dono; arrancar a língua do caluniador, de forma alguma repara os males que a acusação falsa causou ao outro...
"O amor reabilita moralmente o caído, oferecendo-lhe osl recursos para a própria recuperação, após a qual reparará os males praticados e seguirá além, abençoando as vidas pelo caminho, com os tesouros da sua boa vontade, graças à consciência dos novos deveres.
"Quando o amor penetrar o íntimo dos homens, o ódio, que é a doença do egoísmo, cederá lugar à fraternidade e à compreensão..."
- E o perdão deverá ser sempre e constante, seja qual for o erro perpetrado?
Jesus relanceou o olhar amigo pela multidão ansiosa, que acompanhava o diálogo, e arrematou:
- o dever é perdoar setenta vezes sete vezes cada erro da criatura, a fim de que aquele que perdoa sinta-se realmente em condições de ser irmão do seu próximo e saber que o seu é amor por excelência, que procede do Pai e nada lhe pode entorpecer a grandiosidade.
Nathan Sen Assad meneou a cabeça, arrogante, e, lançando sobre o ombro parte do talit de orações, que lhe caía da cabeça ao longo das costas, bateu as sandálias no solo, levantando pó, e retirou- se, vociferando, sem querer entender a preciosa lição de amor. I
Como se nada tivesse acontecido, mantendo o mesmo tom de b01dade na voz e gentileza nos atos, Jesus prosseguiu, explicando:
- O amor, em qualquer expressão, é a presença do Pai Criador sustátandO a vida e dignificando as Suas criaturas. Um dia triunfará sobre todas as conjunturas e regerá todas vidas.
Iniciava-se ali a era do amor sem limite, único antídoto contra o ódio, que remanesce das paisagens morais primitivas do homem e que cederá lugar, oportunamente, à fraternidade e à paz nos dias do futuro.
Pelo Espírito de Amélia Rodrigues – Pelos Caminhos de Jesus

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