(Continuação do Livro "Boa Nova"
de Humberto de Campos
psicografada por Chico Xavier)
Curada
pelo Mestre Divino, a sogra de Simão Pedro ficara maravilhada com os poderes
ocultos do Nazareno humilde, que falava em nome de Deus, enlaçando os corações
com a sua fé profunda e ardente. Restabelecida em sua saúde, passou a
reflexionar mais atentamente acerca do Pai que está nos céus, sempre proveito a
atender às súplicas dos filhos. Chamando certo dia o genro para um exame detido
do assunto, consultou-o sobre a possibilidade de pedirem a Jesus favores
excepcionais para a sua família. Lembrava-lhe a circunstância de ser o Mestre
um emissário poderoso do Reino de Deus que parecia muito próximo. Concitava-o a
ponderar ao Messias que eles eram dos seus primeiros colaboradores sinceros e a
enumerar-lhe as necessidades prementes da família, a exiguidade do dinheiro, o
peso dos serviços domésticos, a casa pobre de recursos, situação a que as
imensas possibilidades de Jesus, cheio de poderes prodigiosos, seriam capazes
de remediar.
O
pescador simples e generoso, tentado em seus sentimentos humanos, examinou
aquelas observações destinadas a lhe abrir os olhos com referência ao futuro.
Entretanto, refletiu que Jesus era Mestre e nunca desprezava qualquer ensejo de
bem ensinar o que era realmente proveitoso aos discípulos. Acaso, não saberia
ele o melhor caminho? Não viam em sua presença alguma coisa da própria presença
de Deus? Guardando, contudo, indeciso o espírito, em face das ponderações
familiares, buscou uma oportunidade de falar com o Messias acerca do assunto.
***
Chegada
que foi a ocasião, o apóstolo procurou provocar muito de leve a solução do
problema, perguntando a Jesus, com a sua sinceridade ingênua:
–
Mestre, será que Deus nos ouve todas as orações?
–
Como não, Pedro? – respondeu Jesus solicitamente – Desde que começou a
raciocinar, observou o homem que acima de seus poderes reduzidos, havia um
poder ilimitado, que lhe criara o ambiente da vida. Todas as criaturas nascem
com tendência para o mais alto e experimentam a necessidade de comungar com esse
plano elevado, donde o Pai nos acompanha com o seu amor, todo justiça e
sabedoria, onde as preces dos homens o procuram sob nomes diversos.
Acreditarias, Simão, que, em todos os séculos da vida humana, recorreriam as almas,
incessantemente, a uma porta silenciosa e inflexível, se nenhum resultado
obtivessem?... Não tenhas dúvida: todas as nossas orações são ouvidas!...
–
No entanto – exclamou respeitoso o discípulo – se Deus ouve as súplicas de
todos os seres, por que tamanha diferenças na sorte? Por que razão sou obrigado
a pescar para prover à subsistência, quando Levi ganha bom salário no serviço
dos impostos, com a sabedoria dos livros? Como explicar que Joana disponha de
servas numerosas, quando minha mulher é obrigada a plantar e cuidar a nossa
horta?
Jesus
ouviu atento essas suas palavra e retrucou :
–
Pedro, precisamos não esquecer que o mundo pertence a Deus e que todos somos
seus servidores. Os trabalhos variam, conforme a capacidade do nosso esforço.
Hoje pescas, amanhã pregarás a palavra divina do Evangelho. Todo trabalho
honesto é de Deus. Quem escreve com a sabedoria dos pergaminhos não é maior do
que aquele que traça a leira laboriosa e fértil, com a sabedoria da terra. O
escriba sincero, que cuida dos dispositivos da lei, é irmão do lavrador bem
intencionado que cuida do sustento da vida. Um cultiva as flores do pensamento,
outro as do trigal que o Pai protege e abençoa. Achas que uma casa estaria
completa sem as mãos abnegadas que lhe varrem os detritos?
Se
todos os filhos de Deus se dispusessem a cobrar impostos, quem os pagaria? Vês,
portanto, que, antes de qualquer consideração, é preciso santificar todo
trabalho útil, como quem sabe que o mundo é morada de Deus.
“Já
pensaste que, se a tua esposa cuida das plantas de tua horta, Joana de Cuza
educa as suas servas?! A qual das duas cabe responsabilidade maior, à tua
mulher que cultiva os legumes, ou à nossa irmã que tem algumas filhas de Deus
sob sua proteção? Quem poderá garantir que Joana terá essa, responsabilidade
por toda a vida? No mundo, há grandes generais que apesar das suas vitórias
passam também pelas duras experiências de seus soldados. Assim, Pedro,
precisamos considerar, em definitivo, que somos filhos e servos de Deus, antes
de qualquer outro título convencional, dentro da vida humana. Necessário é,
pois,que disponhamos o nosso coração a bem servi-lo, seja como rei ou como
escravo, certos de que o Pai nos conhece a todos e nos conduz ao trabalho ou à
posição que mereçamos.”
O
discípulo ouvindo aquelas explicações judiciosas e, confortado com os
esclarecimentos recebidos, interrogou:
–
Mestre, como deveremos interpretar a oração?
–
Em tudo – elucidou Jesus – deve a oração construir o nosso recurso permanente
de comunhão ininterrupta com Deus; Nesse intercâmbio incessante, as criaturas
devem apresentar ao Pai, no segredo das íntimas aspirações, os seus anelos e
esperanças, dúvidas e amargores. Essas confidencias lhes atenuarão os cansaços
do mundo, restaurando-lhes as energias, porque Deus lhes concederá de sua luz.
É necessário, portanto, cultivar a prece, para que ela se torne um elemento
natural da vida, como a respiração. É indispensável conheçamos o meio seguro de
nos identificarmos com o Nosso Pai.
“Entretanto,
Pedro, observamos que os homens não se lembram do céu, senão nos dias de
incerteza e angústia do coração. Se a ameaça é cruel e iminente o desastre, se
a morte do corpo é irremediável, os mais fortes dobram os joelhos; Mas quanto
não deverá sentir-se o Pai amoroso e leal de que somente o procurem os filhos
nos momentos do infortúnio, por eles criados com as suas próprias mãos? Em face
do relaxamento dessas relações sagradas, por parte dos homens, indiferentes ao
carinho paternal da Providência que tudo lhes concede de útil e agradável,
improfìcuamente desejará o filho uma solução imediata para as suas necessidades
e problemas, sem remediar ao longo afastamento em que se conservou do Pai no
percurso, postergando-Lhe os desígnios, respeito às suas questões íntimas e
profundas.”
Simão
Pedro ouvia o Mestre com uma compreensão nova. Não podia apreender a amplitude
daqueles conceitos que transcendiam o âmbito da educação que recebera, mas
procurava perceber o alcance daquelas elucidações, afim de cultivar o
intercâmbio perfeito com o Pai sábio e amoroso, cuja assistência generosa Jesus
revelara, dentro da luz dos seus Divinos ensinamentos.
***
Decorridos
alguns dias, estando o Mestre a ensinar aos companheiros uma nova lição
referente ao impulso natural da prece, Simão lhe observou:
– Senhor, tenho procurado, por todos os modos, manter
inalterável a minha comunhão com Deus, mas não tenho alcançado o objetivo de
minhas súplicas.
–
E o que tens pedido a Deus? – Interrogou o Mestre, sem se perturbar.
–
Tenho implorado à sua bondade que aplaine os meus caminhos, com a solução de
certos problemas materiais.
Jesus
contemplou longamente o discípulo, como se examinasse a fragilidade dos
elementos intelectuais de que podia dispor para a realização da obra
evangélica. Contudo, evidenciando mais uma vez o seu profundo amor e boa
vontade, esclareceu com brandura e convicção:
–
Pedro, enquanto orares pedindo ao Pai a satisfação de teus desejos e caprichos,
é possível que te retires da prece inquieto e desalentado. Mas, sempre que
solicitares as bênçãos de Deus, afim de compreenderes a sua vontade justa e
sábia, a teu respeito, receberás,pela oração os bens divinos do consolo e da
paz.
O
apóstolo guardou silêncio, demonstrando haver, afinal, compreendido. Um dos
filhos de Alfeu, porém, reconhecendo que o assunto interessava sobremaneira à
pequena comunidade ali reunida, adiantou-se para Jesus, pedindo:
–
Senhor, ensina-nos a orar!...
Dispondo-os
então em círculo e como se mergulhasse o pensamento num invisível oceano de
luz, o Messias pronunciou, pela primeira vez, a oração que legaria à
humanidade.
Elevando
o seu espírito magnânimo ao Pai Celestial e colocando o seu amor acima de todas
as coisas, Jesus nos ensinou a orar:
-
“Pai Nosso, que estás nos céus, santificado seja o teu nome.”
E,
ponderando que a redenção da criatura nunca se poderá efetuar sem a
misericórdia do Criador, considerada a imensa bagagem das imperfeições humanas,
continuou:
-
“Venha a nós o teu reino.”
Dando
a entender que a vontade de Deus, amorosa e justa, deve cumprir-se em todas as
circunstâncias, acrescentou:
-
“Seja feita a tua vontade, assim na Terra como nos céus,”
Esclarecendo
que todas as possibilidades de saúde, trabalho e experiência chegam
invariavelmente, para os homens, da fonte sagrada da proteção divina,
prosseguiu:
-
“O pão nosso de cada dia dá-nos hoje.”
Mostrando
que as criaturas estão sempre sob a ação da lei de compensações e que cada uma
precisa desvencilhar-se das penosas algemas obscuras pela exemplificação
sublime do amor, acentuou:
-
“Perdoa-nos as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores.”
Conhecedor,
porém, das fragilidades humanas, para estabelecer o princípio da luta eterna
dos cristãos contra o mal, terminou a sua oração, dizendo com simplicidade:
-
“Não nos deixes cair em tentação e livra-nos de todo o mal, porque teus são o
reino, o poder e a glória para sempre.
Assim
seja.”
Levi,
o mais intelectual dos discípulos, tomou nota das sagradas palavras, para que a
prece do Senhor fosse guardada em seus corações humildes e simples. A rogativa
de Jesus continha, em síntese, todo o programa de esforço e edificação do
Cristianismo nascente. Desde aquele dia memorável, a oração singela de Jesus se
espalhou como um perfume dos céus pelo mundo inteiro.