terça-feira, 30 de novembro de 2010

As etapas do desenvolvimento - por Walter Oliveira Alves

Walter Oliveira Alves
Educação do Espírito – introdução à pedagogia espírita. 7a. Edição IDE: Araras/SP,2001


Nosso objetivo neste capítulo, é estudar as etapas do desenvolvimento da criança tanto no aspecto cognitivo quanto emocional, procurando analisar a criança também como um ser espiritual.
Piaget definiu quatro estágios de desenvolvimento cognitivo qua as crianças percorrem na mesma ordem seqüencial, variando, contudo, a idade cronológica em que completam cada estágio.

Estágio I           : Sensório-motor : De 0 a 2 anos
Estágio II          : Pré-operacional: De 2 a 7 anos
Estágio III         : Operações concretas : de 7 a 12 anos
Estágio IV        : Operações formais : 12 anos em diante

A Pedagogia Waldorf analisa o desenvolvimento da criança como um processo de desenvolvimento físico-espiritual, analisando-a por setênios, ou seja, em ciclos de aproximadamente sete anos.
A Doutrina Espírita, através das obras de André Luiz, citadas à frente, refere-se em especial à idade de 7 anos, ocasião em que o processo reencarnatório estará consolidado. Aos 14 anos, André Luiz nos fala da glândula pineal que reabre seus mundos maravilhosos de sensações e impressões na esfera emocional.
Adotaremos, pois, em nossa análise, a seguinte divisão : do nascimento aos 7 anos, dos 7 aos 14 anos e após os 14 anos, aproveitando assim as fases marcantes assinaladas por André Luiz.
Estudaremos também etapas intermediárias, aproveitando a divisão de Piaget, no aspecto cognitivo.

















OS PRIMEIROS SETE ANOS

Nos primeiros anos de vida (0 a 2 anos ) , a energia que durante a gestação plasmou o corpo físico nos moldes perispirituais e conforme a herança genética, agora atua, principalmente, no desenvolvimento dos órgãos e no funcionamento dos mesmos, habilitando o novo corpo ao pleno domínio do Espírito. O corpo físico entra, pois, em acelerado desenvolvimento. A energia criadora do Espírito se manifesta no campo sensorial e motor. Os órgãos dos sentidos, tato, visão, audição, olfato e paladar se desenvolvem rapidamente. As experiências sensoriais tornam-se gradativamente coordenadas. Os impulsos motores, descontrolados no início, pouco a pouco são dominados e coordenados. Gradualmente o bebê aprende a tocar o que vê e a olhar o que ouve.
Aprende a engatinhar em direção a determinado objeto desejado, com o tempo se ergue, equilibra-se, anda, pula, corre, corre, sobe nas cadeiras, nas cadeiras, etc...
Ao final do período, as ações motoras das crianças pequenas estão bem coordenadas. Começam a organizar seu ambiente.
O andar ereto representa conquista maravilhosa desta fase. O início dos sons, que evolui para a linguagem, representa precioso elo de ligação e comunicação com o mundo exterior.
As experiências cognitivas mais importantes para a criança nesta etapa são as experiências sensoriais e ações motoras que desafiam a sua ação e incentivam a sua atividade, preparando-a para a etapa seguinte de sua existência.
Por esta razão, Piaget denomina este período (0 a 2 anos) de sensório motor, destacando a maneira impressionante com que a criança constrói seus primeiros esquemas mentais a partir de mecanismos reflexos.
Reconstrói, diríamos nós, habilitando o novo corpo ao potencial do Espírito, que gradualmente se manifesta por ele. Para isso o próprio Espírito reconstrói seus esquemas mentais, iniciando pelos sensórios-motores, recapitulando em alguns meses, o longo processo evolutivo dos milênios passados.
A influência do meio, tanto físico como espiritual, é exercida xonstantemente sobre o Espírito reencarnante, que interage gradativa, mas constantemente com essas influências, construindo novas estruturas mentais e ampliando gradualmente suas fronteiras vibratórias.
Assim é que aperfeiçoa-se a forma física, aperfeiçoa-se a inteligência, aperfeiçoa-se o sentimento, em transformação gradativas em que o conjunto espírito-matéria se acomoda aos novos desafios que a nova existência apresenta ao Espírito desde os primeiros instantes da vida intra-uterina até o seu desencarne.
Do ponto de vista moral, esta fase caracteriza a anomia (a = não nomia = lei, regra). O bebê segue os próprios impulsos de atividade sensorial e motora. Para ele não há regras exteriores, mas somente a necessidade imperiosa de seu organismo fisiológico. Tudo na criança , manda agir, avançar, olhar, pegar, chupar e experimentar. Tudo é atividade, ação, de início desorganizada, mas pouco a pouco controlada e coordenada. A necessidade fisiológica é imperiosa.
Experimentando as necessidades básicas do nov organismo que necessita de alimento e cuidados necessários ao seu desenvolvimento, vincula-se à figura materna que lhe satisfaz as necessidades básicas, recebendo também o alimento espiritual no aconchego do regaço materno, que lhe envolve em vibrações de carinho e amor.
Além do alimento material que propicia o desenvolvimento orgânico, a criança necessita do alimento espiritual, em forma de vibração. A aparência de inocência desperta nos pais o amor. O Espírito se vê envolvido em vibrações sutis, recebendo atenções e amor que percebe pelas vibrações que lhe alcançam a alma.
O amor e carinho do adulto alimentam as regiões superiores da alma, o superconsciente onde se localiza o ideal superior e nobre que todo Espírito, filho de Deus, possui em si, em estado latente. O amor dos pais será, pois, forte estímulo a despertar o amor que o Espírito reencarnado possui em si mesmo, como filho e herdeiro de Deus que é.
O amor dos pais é tão necessário para o seu desenvolvimento afetivo como o leite materno o é para o desenvolvimento de seu organismo físico.
O amor é alimento”  nos ensina André Luiz em Nosso Lar.
Ao mesmo tempo, o ambiente vibratório emanado do amor dos pais protege o Espírito de vibrações nocivas ao seu desenvolvimento. A criança ainda conta com um Espírito protetor que permanece ao seu lado até a idade dos 7 anos, ocasião em que o processo reencarnatório estará consolidado.(Ver Missionários da Luz – André Luiz – cap. 13)
Os cuidados do plano espiritual auxiliam o reencarnante a receber o alimento espiritual adequado, ou seja, as vibrações de caráter superior e nobre, embasada no sentimento de amor.
A sabedoria Divina  não perde tempo, aproveitando todas as oportunidades em favor do filho amado, que recebe dos dois mundos a energia superior adequada, conforme suas necessidades íntimas.

Até os três anos a criança está fortemente voltada à figura materna e ao lar. Suas necessidades básicas de alimentação e amor somente encontrarão no lar o material vibratório adequado ao seu desenvolvimento.

Aos três anos, aproximadamente, a criança adquire maior consciência do outro. Passa a imitar o mais velho e acelera o longo processo de descentração de si mesma.
A criança, embora  de forma inconsciente, imita o que percebe ao seu redor. O ambiente moral  e sentimental em que vive atua sobre ela. Não apenas os atos dos adultos, mas o sentimento, o estado vibratório é percebido pela criança.
A imitação não é simples cópia de um modelo, mas reconstrução do que observado. Ao imitar, a criança está criando algo novo em si mesma, a partir do que observa no outro.
Ao imitar o adulto, passa a se identificar com certas pessoas. Ela brinca de médico, de dentista, de jardineiro, de vendedor, etc... Não se trata de fingimento, mas de identificação.
O leitor inteligente já percebeu a importância do exemplo do adulto e do ambiente  que cerca a criança desta fase em diante.
O adulto consciente também perceberá a necessidade de melhorar a si mesmo, pois o exemplo que oferece, as vibrações que emite são de grande importância na educação da criança.
Do ponto de vista cognitivo, Piaget denomina o período dos 2 aos 7 anos de período pré-operatório, subdividindo-o em dois . De 2 a 4 anos (período pré-conceitual), desenvolve-se a função simbólica, quando a criança começa a compreender o símbolo: um pedaço de pau é um cavalo, toquinhos de madeira são soldados, etc... É a idade do “faz-de-conta”. Aumenta gradualmente o uso da linguagem e do pensamento simbólico. No entanto, predomina o egocentrismo : conversa sozinha e brinca com seus brinquedos, “fazendo” histórias e reproduzindo situações vividas. Adora ouvir histórias. Devemos entender por egocentrismo a incapacidade da criança de se colocar na posição do outro para tomar o ponto de vista daquela pessoa. O adulto “egocêntrico” poderia tomar o ponto de vista de outra pessoa mas não o faz. Tal posição no adulto caracteriza o egoísmo e o orgulho. Na criança é uma fase normal e transitória.
A coordenação motora se aperfeiçoa: linhagens, desenhos simples. De 4 a 7 anos (pensamento intuitivo) o pensamento ainda está intimamente ligado às suas percepções visuais. Não é capaz de relacionar entre si os diferentes aspectos de uma situação. Predomina a irreversibilidade no pensamento, sabe pensar de um modo, mas não do modo reverso. Como exemplo, citamos uma das experiências de Piaget : Uma criança de 4 anos é colocada diante de dois vidros idênticos, baixos e largos, contendo quantidade iguais de líquido e ela declara que eles contém a mesma quantidade. Então, na frente da criança, o líquido de um vidro é colocado em outro vidro alto e fino. Agora, a criança afirma rapidamente que o vidro alto e fino contém mais líquido.
Outra experiência interessante que demonstra a dificuldade em descentralizar foi realizada por Piaget apresentando uma criança de cinco anos uma contendo 27 contas de madeira; 20 brancas e sete castanhas. Quando se pergunta se há mais contas brancas ou mais castanhas, a criança responde corretamente “brancas”. Entretanto, quando se pergunta se há mais contas brancas ou contas de madeira, a questão não é compreendida. A criança está pensando nas contas como castanhas ou brancas, sentindo dificuldade em pensar nelas em outros termos, como madeira ou não.
Até os 3 anos, aproximadamente, ela acredita no mundo como ela vê e não tem consciência de que existem outros pontos de vista. A consciência de que existem outros pontos de vista. A consciência do outro surge gradativamente a partir dos três anos, quando a criança se volta aos mais velhos, observando suas brincadeiras e procurando imitar. Gradativamente, ela vai percebendo que existem outros pontos de vista além dos seus. Começa a se encaminhar para a fase de heteronomia moral. É bom lembrar que, segundo Piaget, as fases morais não constituem estágios propriamente dito.
Nesta fase, a regra é algo “sagrado”, que deve ser obedecida ao “pé da letra”, não podendo ser mudada nem relativizada.
Ao mesmo tempo, aos 3-4 anos surge a fase dos “porquês”. A criança começa a despertar para o outro, para o mundo, querendo saber o significado das coisas. “Porque sim!”não é resposta. As respostas devem ser dadas até o nível de compreensão da criança. ela não consegue compreender raciocínios complexos ou abstratos. Respostas simples e objetivas satisfazem a sua curiosidade.
Piaget enfatiza a necessidade do respeito mútuo (faça ao outro o que gostaria que lhe fizessem) e o afeto do adulto, num ambiente de cooperação, como ingredientes indispensáveis para auxiliar a criança em sua passagem natural da heteronomia para a autonomia moral, quando a criança passará a compreender a necessidade das regras, abrindo-se para uma compreensão maior das leis naturais da vida, da lei de causa e efeito, das leis Divinas que regem mundos e seres.

A FORÇA DO EXEMPLO E A INFLUÊNCIA DO MEIO

“Desde o berço a criança manifesta os instintos bons ou maus que traz de sua existência anterior.”( O Evangelho Seg. o Espiritismo – cap. XIV.9)
Mas a manifestação é gradual, à medida que a criança cresce, sua percepção do meio amplia e a influência externa se torna maior. A  importância do exemplo e do meio ambiente será fundamental na educação do Espírito reencarnado, nesses primeiros sete anos de sua nova existência.
Como já vimos, a partir dos 3 anos aproximadamente, o Espírito amplia sua convivência com o outro. Sua percepção aumenta e passa a receber de forma mais acentuada as vibrações do meio e o exemplo dos adultos.
O estímulo do meio atingirá os impulsos que estiverem em condições de serem ativados. Gradualmente, a criança vai reagindo aos estímulos exteriores.
Assim como a alimentação, as condições climáticas, a umidade do ar, etc... agem sobre o organismo físico da criança, também o alimento espiritual, as vibrações, pensamentos e ações agem sobre sua alma, ou seja, agem sobre a natureza anímica da criança.
Tudo o que acontece à sua volta, os exemplos que observa, os filmes que assiste, as histórias que ouve, as vibrações que envolvem atuam de alguma forma no desenvolvimento intelectual e moral da criança.
“’É pelo fluido mental com qualidades magnéticas de indução que o progresso se faz notavelmente acelerado. Pela troca dos pensamentos de cultura r beleza, em dinâmica expansão, os grandes princípios da Religião e da Ciência, da Virtude e da Educação, da Indústria e da Arte descem das Esferas Sublimes e impressionam a mente do homem, traçando-lhe profunda renovação ao corpo espiritual, a refletir-se no veículo físico que, gradativamente, se acomoda a novos hábitos.” ( Evolução em dois mundos – cap. XIII)
Vibrações de teor elevado despertarão os impulsos superiores e nobres ao mesmo tempo em que propiciam o desenvolvimento dos sentimentos superiores do superconsciente, visto ser a criança um ser perfectível.
No entanto, vibrações de teor inferior poderão acordar prematuramente impulsos do mesmo teor, propiciando o surgimento de sentimentos inferiores que o espírito guarda afinidade ou que cultivou no passado e que se encontram adormecidos em seu subconsciente.
As variações de humor podem ser naturais. As circunstâncias da vida podem propiciar a manifestação de certos sentimentos negativos, fazendo a criança oscilar, deixando transparecer crises de nervosismo, irritação, intranqüilidade que podem desaparecer com a mesma rapidez com que se manifestaram e, em pouco tempo, a criança retorna a brincar, feliz como antes.
No entanto, o leitor amigo há de perceber o que acontece quando a criança adota como modelo os “heróis” agressivos e violentos que a TV não cessa de oferecer, ou que a invigilância do adulto lhe oferece como exemplo. A imitação aparentemente inocente propicia a entrada em faixa vibratória de igual teor. A sintonia se estabelece, acordando prematuramente impulsos inferiores, em época que a criança deveria cultivar os melhores sentimentos que lhe servirão de sustentáculo mais tarde. É fácil compreender que o campo vibratório propicia interação não somente com a esfera física, mas também com os Espíritos que vibram na mesma sintonia. Os impulsos inferiores do passado que porventura a criança traga dentro de si, surgem prematuramente. os noticiários nos mostram crianças envolvidas na delinqüência  e na prostituição infantil e, algumas vezes, em bárbaros crimes.
Contudo, a infância é propícia o desenvolvimento dos sentimentos superiores. ao sentir as vibrações superiores à sua volta, ao observar exemplos edificantes e ao adotar como modelo um personagem justo e bom, a criança tenderá a agir como ele age, o que equivale a dizer: vibrar no mesmo teor vibratório superior. Da mesma forma, a arte, a música, as artes plásticas, as brincadeiras salutares, as histórias de elevado teor, propiciam o clima adequado ao desenvolvimento pleno dos sentimentos superiores e nobres.
À medida em que seus impulsos do passado se manifestam gradualmente, com o desenvolvimento dos órgãos, o Espírito reencarnado terá sentimentos superiores e vibrações mais elevadas para trabalhar com seus próprios impulsos. O sentimento superior, aliado ao conhecimento espiritual que a Doutrina Espírita oferece, formará o alicerce sólido para o Espírito que está “construindo o próprio futuro santificante”.
No futuro, as autoridades sanitárias se preocuparão com a higiene menta tanto quanto se preocupam com a higiene física. As campanhas morais atingirão os lares, onde a vacina afetiva será aplicada através do cultivo dos bons sentimentos, dos exemplos edificantes. As mães se preocuparão com o alimento espiritual tanto quanto se preocupam hoje com o alimento físico.
As escolas exercerão ação educativa e preventiva dos males da alma. A educação terá um caráter terapêutico e profilático.
As casas espíritas devem pois, preparar-se para oferecer às crianças este ambiente salutar e eminentemente evangelizador, através da vivência dos princípios do Evangelho e do conhecimento superior que a Doutrina nos oferece.



DE SETE A QUATORZE ANOS

Aos sete anos, aproximadamente, ocorrem transformações importantes na vida do Espírito reencarnado.
André Luiz faz importantes revelações, sobre os primeiros sete anos da criança, no livro Missionários da Luz, item 13, ao relatar as palavras do instrutor espiritual Alexandre, sobre a reencarnação de Segismundo :
“- Meus amigos, o nosso Herculano permanecerá em definitivo junto de Segismundo, na nova experiência, até que ele atinja os sete anos, após o renascimento, ocasião em que o processo reencarnacionista estará consolidado. Depois desse período, a sua tarefa de amigo e orientador será amenizada, visto que seguirá o nosso irmão em sentido mais distante.”
Piaget também nos cita etapas bem definidas de desenvolvimento, conforme vimos anteriormente, chamando o período de 2 a 7 anos de pre-operacional.
A Pedagogia Waldorf, de Rudolf Steiner, uma das poucas ciências pedagógicas de nosso tempo que compreende a criança como Espírito reencarnado, também destaca a importância dos primeiros sete anos da criança. ( Sugerimos a leitura de A Pedagogia Waldorf de Rudolf Lans, Editora Antroposófica)

A CRIANÇA APÓS OS SETE ANOS

Segundo André Luiz, na obra citada, após os sete anos, o processo reencarnacionista está consolidado.
Percebemos, pois, claramente que, aos sete anos uma primeira etapa da nova reencarnação terminou e o Espírito está apto a iniciar a nova eatpa evolutiva na presente encarnação, integrado em seu novo corpo.
Piaget denominou o período de 7 a 12 anos de Operatório Concreto, destacando que, neste período, as operações desempenhadas pela criança estão intimamente relacionadas com os objetos e as ações concretas.
Devemos compreender que Piaget usa o termo operações para descrever ações cognitivas intimamente organizadas em uma rede ou sistema. O pensamento  lógico ocorre, mas geralmente, apenas se houver objetos concretos disponíveis ou se experiências reais passadas forem relembradas. Por exemplo : se apresentarmos a uma criança de sete ou oito anos três blocos de diferentes tamanhos, ela poderá dizer, simplesmente olhando-os que A é maior que B e B é maior que C, portanto A é maior que C. Ela pode fazer isso logicamente, simplesmente observando os blocos. Entretanto, se lhe for proposto o mesmo problema sob forma abstrata, isto é, apenas em palavras, ela terá grande dificuldade em responder corretamente. Mesmo assim, este estágio representa um progresso no pensamento lógico da criança. Ela evolui em direção a um pensar cada vez mais abstrato, mas a transformação é gradual e lenta.
Em nosso caso, que trabalhamos com conceitos muitas vezes profundos, como desencarnação, reencarnação, mundo espiritual, etc..., temos necessidade de concretizarmos tais ensinamentos utilizando objetos concretos como maquetes., fantoches e mesmo material de sucata, auxiliando a criança a uma real compreensão dos conteúdos em estudo, preparando-a para a próxima etapa onde deverá estar apta a compreender as idéias abstratas.
Do ponto de vista moral, Piaget destaca que a criança, embora na fase da moralidade heterônoma, caminha lentamente para a autonomia moral. Para auxiliar a criança em seu caminhar para a autonomia, Piaget destaca a necessidade da cooperação num ambiente de respeito mútuo, de reciprocidade entre educador e educando, embasado no afeto sincero.
Rudolf Steiner, criador da Pedagogia Waldorf, que analisa o desenvolvimento infantil por setênios, destaca “A chave de ouro da educação durante o segundo setênio (7 a 14 anos) consiste, pois, em trabalhar com os sentimentos da criança, em apelar para sua fantasia criadora e em aumentar essas forças com imagens que as fecundem e elevem.”
Destaca também a importância da musicalidade, considerando, contudo, o termo música, num sentido amplo : “O elemento musical tem por campo o tempo, e toda a vida sentimental de um indivíduo, os seus entusiasmos e tristezas, os anseios e as expectativas, a sístole e a diástole, são essencialmente elementos musicais, devido ao elemento rítmico que lhes é inerente.” (Pedagogia Waldorf,  de Rudolf Lans – 2a. parte – iem 2)
A Pedagogia Waldorf destaca o predomínio da vida sentimental, neste período. “A criança não pode pensar nem aprender nem conhecer qualquer fato sem que também esteja engajada  emocionalmente. ela acompanha tudo com reações sentimentais de simpatia ou de antipatia, de admiração, de entusiasmo ou de tédio...
A própria criança evolui durante esse período em direção a um pensar cada vez mais abstrato, mas a transformação das imagens e fenômenos em conceitos e regras deve-se processar paulatinamente. Daí o imperativo absoluto de que todo ensino, para realmente atingir a criança de maneira positiva, deve ser dado não de forma abstrata e teórica, mas sim a partir de fenômenos, de imagens que utilizem o manancial de forças de sentimento e de fantasia presentes na criança. (...)
Cada dia de aula deveria ser, para os alunos, uma série de vivências que lhes despertassem a admiração, o entusiasmo diante das maravilhas do mundo (...)
Além disso, o sentimento do belo deve ser cultivado por atividades artísticas e artesanais, isto é, pelo “fazer”. (idem, idem)
Rudolf Lans, na mesma obra, destaca a importância da autoridade dos pais e professores junto às crianças desta idade (7 a 14), demonstrando  que a autoridade nunca deve ser imposta à força, mas “deveria ser o resultado natural de um relacionamento baseado na veneração, no respeito e no reconhecimento inconsciente das qualidades superiores do educador ( qualidades que este deve realmente se esforçar para possuir! )... Com a riqueza das forças sentimentais que o jovem possui nessa faixa etária, ele quer venerar, quer encontrar figuras ideais, quer amar. Não poderia haver educação harmoniosa se o educador não fosse admirado e aceito como autoridade natural, na base do amor.”
Se a criança não encontra nos pais e professores esta autoridade sincera e leal, boa e responsável, que lhe dá segurança e que ela procura, mesmo inconsciente, como um ideal necessário ao seu desenvolvimento, a criança buscará seus ideais nos “heróis”da TV ou em colegas mais velhos e pode acontecer de se identificar com o “anti-herói”, as figuras violentas, vingativas que a TV explora de modo irresponsável e danoso. O Espírito superior que reencarna, não encontrará pontos de identificação com tais “heróis”, pois já venceu tais impulsos em si mesmo, nas vidas anteriores. Mas a maioria da população de nosso planeta, ainda possui tendências inferiores, dentro de si, impulsos que surgem à tona gradualmente, e poderá se identificar com as figuras inferiores que a TV apresenta como “heróis”.
O Espírito reencarnado, que se preparou no Mundo Espiritual para uma nova etapa evolutiva no planeta, na fase infantil e na juventude, está sedento de ideais nobres, é um idealista r espera encontrar ideais nobres nos adultos que lhe orientam os passos.
O Espírito comprometido com as esferas inferiores, embora com menores possibilidades, também renasce para evoluir, e conta com a assistência amorável de Espíritos superiores que procuram aproveitar todas as boas tendências para despertar os ideais superiores da alma. Este necessita, mais do que todos, encontrar ideais nobres, adultos responsáveis, leais, sinceros que lhes orientem os passos e despertem em sua alma os poderes latentes que todos possuímos como filhos de Deus que somos.
Daí o imperativo dos pais e evangelizadores trabalharem juntos, procurando desenvolver em si mesmos os ideais nobres e superiores que desejam ver desabrochar em seus filhos e educandos. Somos todos alunos desta escola bendita de almas, onde Jesus é o Mestre por excelência, e o Evangelizador sincero necessita preparar-se, não só pedagogicamente falando, mas principalmente evangelizando-se a si mesmo, procurando, cada vez mais, vibrar em sintonia com Jesus, embora a nossa própria inferioridade.
“Vós sois a luz do mundo...”- disse Jesus à multidão que se aglomerava no sopé da montanha, embora fossem criaturas simples, humildes, velhinhos no fim da jornada, mulheres do povo com seus filhinhos no colo, doentes de todos os tipos.
“Brilhe a vossa luz diante dos homens para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o Pai que está nos Céus...” recomendou o Mestre a todos, traçando-lhes as diretrizes futuras de iluminação interior para servir aos ideais do Pai.
A autoridade aceita e baseada na carinhosa admiração substitui gradualmente a imitação, que predominou de 3 a 6/7 anos. O educador, pois, tem necessidade de “conquistar” a confiança e a admiração da criança se deseja auxiliá-la verdadeiramente. Naturalmente, imitação e autoridade carinhosa, permanecerão juntas por alguns anos, enquanto a criança caminha gradualmente para uma fase de maior autonomia, preparando-se para compreensão de conceitos abstratos, o que deve ocorrer após os 12-13 anos, quando o jovem passa a querer compreender, em essência, cada conceito e quando a autoridade do adulto chegará mesmo a ser posta à prova, como veremos no próximo ítem.


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