quinta-feira, 19 de março de 2015

Tentação e Remédio




Reunião pública de 12/1/59
Questão nº 712

Qual acontece com a árvore, a equilibrar-se sobre as próprias raízes, guardamos o coração na tela do pre­sente, respirando o influxo do passado.
É assim que o problema da tentação, antes que nascido de objetos ou paisagens exteriores, surge funda­mentalmente de nós — na trama de sombra em que se nos enovelam os pensamentos...
Acresce, ainda, que essas mesmas ondas de força ex­perimentam a atuação dos amigos desenfaixados da car­ne que deixamos a distância da esfera física, motivo por que, muitas vezes, os debuxos mentais que nos incomo­dam levemente, de inicio, no campo dessa ou daquela ideia infeliz, gradualmente se fazem quadros enormes e inquietantes em que se nos aprisionam os sentimentos, que passam, muita vez, ao domínio da obsessão mani­festa.
Todavia, é preciso lembrar que a vida é permanen­te renovação propelindo-nos a entender que o cultivo da bondade incessante é o recurso eficaz contra o assédio de toda influência perniciosa.
       E o trabalho, por essa forma, o antídoto adequado, capaz de anular toda enquistação tóxica do mundo ín­timo, impulsionando-nos o espírito a novos tipos de su­gestão, nos quais venhamos a assimilar o socorro dos Emissários da Luz, cujos braços de amor nos arreba­tam ao nevoeiro dos próprios enganos.
       Assim, pois, se aspiras à vitória sobre o visco da treva que nos arrasta para os despenhadeiros da loucura ou do crime, ergue no serviço à felicidade dos semelhan­tes o altar dos teus interesses de cada dia, porquanto, ainda mesmo o delinquente confesso, em se decidindo a ser o apoio do bem na Terra, transforma-se, pouco a pouco, em mensageiro do Céu.

Outros textos espíritas sobre esse assunto

1)  LIVRO DOS ESPÍRITOS (Allan Kardec)
Questão 712 
Por que Deus colocou o atrativo do prazer na posse e uso dos bens materiais?
– Para estimular o homem ao cumprimento de sua missão e experimentá-lo por meio da tentação.

Questão712 a 
Qual é o objetivo dessa tentação?
– Desenvolver sua razão, que deve preservá-lo dos excessos.
Se o homem tivesse considerado o uso dos bens da Terra somente pela utilidade que eles têm, sua indiferença poderia comprometer a harmonia do universo: Deus lhe deu o atrativo do prazer para o cumprimento dos seus desígnios. Mas pelo que possa representar esse atrativo quis, por outro lado, prová-lo por meio da tentação que o arrasta para o abuso do qual sua razão deve defendê-lo.

2)   EVANGELHO SEGUNDO O ESPIRITISMO (Allan Kardec)
Capítulo XXVIII 

PARA PEDIR A FORÇA DE RESISTIR A UMA TENTAÇÃO
            20 – Prefácio – Todo mau pensamento pode ter duas origens: a nossa própria imperfeição espiritual, ou uma funesta influência que age sobre ela. Neste último caso, temos a indicação de uma fraqueza que os expõe a essas influências, e portanto de que a nossa alma é imperfeita. Dessa maneira, aquela que falir não poderá desculpar-se com a simples influência de um Espírito estranho, desde que esse Espírito não poderia levá-lo ao mal, se o encontrasse inacessível à sedução.
            Quando temos um mau pensamento, podemos supor que um Espírito malfazejo nos sugere o mal, cabendo-nos inteira liberdade de ceder ou resistir, como se estivéssemos diante da solicitação de uma pessoa viva. Devemos ao mesmo tempo imaginar o nosso Anjo Guardião ou Espírito Protetor, que por sua vez combate em nós essa influência má, esperando com ansiedade a decisão que vamos tomar. Nossa hesitação em atender ao mal é devida à voz do Bom Espírito, que se faz ouvir pela nossa consciência.
            Reconhece-se um mau pensamento quando ele se distancia da caridade, que é à base de toda moral verdadeira; quando vem carregado de orgulho, vaidade e egoísmo; quando a sua realização pode causar algum prejuízo a outra pessoa; quando, enfim,nos propõe fazer aos outros o que não quereríamos que os outros nos fizessem. (Caps. XXVIII, nº 15 e XV, nº 10)

3)   FONTE VIVA – Emmanuel – Psicografia de Francisco Candido Xavier
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Vigiemos e oremos
“Vigiai e orai, para não cairdes em tentação.”
Jesus (Mateus, 26:41)
As mais terríveis tentações decorrem do fundo sombrio de nossa individualidade, assim como o lodo, mais intenso, capaz de tisnar o lago, procede do seu próprio seio.
Renascemos na Terra com as forças desequilibradas do nosso pretérito para as tarefas do reajuste.
Nas raízes de nossas tendências, encontramos as mais vivas sugestões de inferioridade. Nas íntimas relações com os nossos parentes, somos surpreendidos pelos mais fortes motivos de discórdia e luta.
Em nós mesmos podemos exercitar o bom ânimo e a paciência, a fé e a humildade. Em contato com os afetos mais próximos, temos copioso material de aprendizado para fixar em nossa vida os valores da boa vontade e do perdão da fraternidade pura e do bem incessante.
Não te proponhas desse modo, atravessar o mundo, sem tentações.
Elas nascem contigo, assomam de ti mesmo e alimentam-se de ti, quando não as combates dedicadamente, qual o lavrador sempre disposto a cooperar com a terra da qual precisa extrair as boas sementes.
Caminhar do berço ao túmulo sob as marteladas da tentação, é natural. Afrontar obstáculos, sofrer provações tolerar antipatias gratuitas e atravessar; tormentas de lágrimas são  vicissitudes lógicas da experiência humana.
Entretanto, lembremo-nos do ensinamento do Mestre, vigiando e orando para não sucumbirmos às tentações de vez que mais vale chorar sob os aguilhões da resistência que sorrir sob os narcóticos da queda.

4)   CAMINHO VERDADE E VIDA – Emmanuel – Psicografia de Francisco Candido Xavier
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ORIGEM DAS TENTAÇÕES
“Mas cada um é tentado, quando atraído e engodado pela sua própria concupiscência.” —
(TIAGO, capítulo 1, versículo 14.)
Geralmente, ao surgirem grandes males, os participantes da queda imputam a Deus a causa que lhes determinou o desastre. Lembram-se, tardiamente de que o Pai é Todo-Poderoso e alegam que a tentação somente poderia ter vindo do Divino Desígnio.
Sim, Deus é o Absoluto Amor e tanto é assim que os decaídos se conservam de pé, contando com os eternos valores do tempo, amparados por suas mãos compassivas As tentações, todavia, não procedem da Paternidade Celestial.
Seria, porventura, o estadista humano responsável pelos atos desrespeitosos de quantos inquinam a lei por ele criada?
As referências do Apóstolo estão profundamente tocadas pela luz do céu.
“Cada um é tentado, quando atraído pela própria concupiscência.”
Examinemos particularmente ambos os substantivos “tentação” e “concupiscência”. O primeiro exterioriza o segundo, que constitui o fundo viciado e perverso da natureza humana primitivista. Ser tentado é ouvir a malícia própria, é abrigar os inferiores alvitres de si mesmo, porquanto, ainda que o mal venha do exterior, somente se concretiza e persevera se com ele afinamos, na intimidade do coração.
Finalmente, destaquemos o verbo “atrair”. Verificaremos a extensão de nossa inferioridade pela natureza das coisas e situações que nos atraem.
A observação de Tiago é roteiro certo para analisarmos a origem das tentações.
Recorda-te de que cada dia tem situações magnéticas específicas. Considera a essência de tudo o que te atraiu no curso das horas e eliminarás os males próprios, atendendo ao bem que Jesus deseja.

5)  AÇÃO E REAÇÃO – ANDRÉ LUIZ – PSICOGRAFIA DE FRANCISCO CÂNDIDO XAVIER

Capítulo 8 - PREPARATIVOS PARA O RETORNO

“... Longe de qualquer precipitação na defesa da verdade e do bem, o Assistente falou, calmo.
- O esclarecimento nos faz crer que este homem, e designou Luís, que prosseguia fascinado pelos maços de cédulas da gaveta abarrotada -, além do apego enfermiço à precária riqueza humana, ainda sofre a pressão de outras mentes, alucinadas quanto a dele, nos enganos da posse material. Neste caso, o doentio desejo de que se sente objeto é naturalmente elevado à tensão máxima...
Leonel, percebendo que Silas penetrava o âmago do problema com surpreendente facilidade, explicou, entusiasmado.
- Sim, aprendemos nas escolas de vingadores[1] que todos possuímos, além dos desejos imediatistas comuns, em qualquer fase da vida, um "desejo-central" ou "tema básico" dos interesses mais íntimos. Por isso, além dos pensamentos vulgares que nos aprisionam a experiência rotineira, emitimos com mais frequência os pensamentos que nascem do "desejo-central" que nos caracteriza, pensamentos esses que passam a constituir o reflexo dominante de nossa personalidade. Desse modo, é fácil conhecer a natureza de qualquer pessoa, em qualquer plano, através das ocupações e posições em que prefira viver. Assim é que a crueldade é o reflexo do criminoso, a cobiça é o reflexo do usurário, a maledicência é o reflexo do caluniador, o escárnio é o reflexo do ironista e a irritação é o reflexo do desequilibrado, tanto quanto a elevação moral é o reflexo do santo... Conhecido o reflexo da criatura que nos propomos retificar ou punir é, assim, muito fácil superalimentá-la com excitações constantes, robustecendo-lhe os impulsos e os quadros já existentes na imaginação e criando outros que se lhes superponham, nutrindo-lhe, dessa forma, a fixação mental. Com esse objetivo, basta alguma diligência para situar, no convívio da criatura malfazeja que precisamos corrigir, entidades outras que se lhe adaptem ao modo de sentir e de ser, quando não possamos por nós mesmos, à falta de tempo, criar as telas que desejemos, com vistas aos fins visados, por intermédio da determinação hipnótica. Através de semelhantes processos, criamos e mantemos  facilmente o "delírio psíquico" ou a "obsessão", que não passa de um estado anormal da mente, subjugada pelo excesso de suas próprias criações a pressionarem o campo sensorial, infinitamente acrescidas de influência direta ou indireta de outras mentes desencarnadas ou não, atraídas por seu próprio reflexo.
E, sorrindo, o inteligente perseguidor disse, sarcástico.
- Cada um é tentado exteriormente pela tentação que alimenta em si próprio.
De mim mesmo, achava-me perplexo. Nunca ouvira um verdugo, aparentemente vulgar, com tanto conhecimento e consciência de seu papel.
Figurava-se-me assistir a um curso rápido de sadismo mental, extravagante e frio.
Silas, mais treinado que eu, no trato com os amigos daquela condição, não exteriorizou qualquer sentimento de pesar ou de assombro, na fisionomia serena.
Entremostrando, porém, grande interesse em torno da preleção, considerou.
- Indiscutivelmente, a exposição é perfeita. Cada qual de nós vive e respira nos reflexos mentais de si mesmo, angariando as influências felizes ou infelizes que nos mantêm na situação que buscamos... Os Céus ou as Esferas Superiores são constituídos pelos reflexos dos Espíritos santificados e o inferno...
- É o reflexo de nós mesmos - completou Leonel com uma gargalhada...”






[1]  Refere-se a entidade a organizações mantidas por Inteligências criminosas, homiziadas temporariamente nos planos inferiores. - (Nota do Autor espiritual.)

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