Continuação da leitura do Livro "Boa Nova" de Humberto de Campos
psicografada por Chico Xavier
COMENTÁRIO DO POSTER: Esse capítulo, que descreve de forma comovente a vida de Maria de Nazaré, por ser muito extenso foi dividido em três partes:
A
alvorada desdobrava o seu formoso leque de luz quando aquela alma eleita se
elevou da Terra, onde tantas vezes chorara de júbilo, de saudade e de
esperança. Não mais via seu filho bem-amado, que certamente a esperaria, com as
boas-vindas, no seu reino de amor; mas, extensas multidões de entidades
angélicas a cercavam cantando hinos de glorificação.
Experimentando
a sensação de se estar afastando do mundo, desejou rever a Galileia com os seus
sítios preteridos. Bastou a manifestação de sua vontade para que a conduzissem
à região do lago de Genesaré, de maravilhosa beleza. Reviu todos os quadros do
apostolado de seu filho e, só agora, observando do alto a paisagem, notava que
o Tiberíades, em seus contornos suaves, apresentava a forma quase perfeita de
um alaúde.
Lembrou-se,
então, de que naquele instrumento da Natureza Jesus cantara o mais belo poema
de vida e amor, em homenagem a Deus e à humanidade. Aquelas águas mansas,
filhas do Jordão marulhoso e calmo, haviam sido as cordas sonoras do cântico
evangélico. Dulcíssimas alegrias lhe invadiam o coração e já a caravana
espiritual se dispunha a partir, quando Maria se lembrou dos discípulos perseguidos
pela crueldade do mundo e desejou abraçar os que ficariam no vale das sombras,
à espera das claridades definitivas do Reino de Deus.
Emitindo
esse pensamento, imprimiu novo impulso ás multidões espirituais que a seguiam
de perto. Em poucos instantes, seu olhar divisava uma cidade soberba e
maravilhosa, espalhada sobre colinas enfeitadas de carros e monumentos que lhe
provocavam assombro. Os mármores mais ricos esplendiam nas magnificentes vias
públicas, onde as liteiras patrícias passavam sem cessar, exibindo pedrarias e
peles, sustentadas por misérrimos escravos. Mais alguns momentos e seu olhar
descobria outra multidão guardada a ferros em escuros calabouços. Penetrou os
sombrios cárceres do Esquilino, onde centenas de rostos amargurados retratavam
padecimentos atrozes.
Os
condenados experimentaram no coração um consolo desconhecido. Maria se
aproximou de um a um, participou de suas angústias e orou com as suas preces,
cheias de sofrimento e confiança. Sentiu-se mãe daquela assembleia de
torturados pela injustiça do mundo. Espalhou a caridade misericordiosa de seu
espírito entre aquelas fisionomias pálidas e tristes.
Eram
anciães que confiavam no Cristo, mulheres que por ele haviam desprezado
conforto do lar, jovens que depunham no Evangelho do Reino toda a sua
esperança. Maria aliviou-lhes o coração e, antes de partir, sinceramente
desejou deixar-lhes nos espíritos abatidos uma lembrança perene. Que possuía
para lhes dar? Deveria suplicar a Deus para eles a liberdade?! Mas, Jesus
ensinara que com ele todo jugo é suave e todo fardo seria leve, parecendo-lhe
melhor a escravidão com Deus do que a falsa liberdade nos desvãos do mundo.
Recordou que seu filho deixara a força da oração como um poder incontrastável
entre os discípulos amados. Então, rogou ao Céu que lhe desse a possibilidade
de deixar entre os cristãos oprimidos a força da alegria.
Foi
quando, aproximando-se de uma jovem encarcerada, de rosto descarnado e
macilento, lhe disse ao ouvido: — “Canta, minha filha! Tenhamos bom ânimo!...
Convertamos as nossas dores da Terra em alegrias para o Céu!..”
A
triste prisioneira nunca saberia compreender o porquê da emotividade que lhe
fez vibrar subitamente o coração. De olhos extáticos, contemplando o firmamento
luminoso, através das grades poderosas, ignorando a razão de sua alegria,
cantou um hino de profundo e enternecido amor a Jesus, em que traduzia a sua
gratidão pelas dores que lhe eram enviadas, transformando todas as suas
amarguras em consoladoras rimas de júbilo e esperança. Daí a instantes, seu canto
melodioso era acompanhado pelas centenas de vozes dos que choravam no cárcere,
aguardando o glorioso testemunho. Logo, a caravana majestosa conduziu ao Reino
do Mestre a bendita entre as mulheres e, desde esse dia, nos tormentos mais
duros, os discípulos de Jesus têm cantado na Terra, exprimindo o seu bom ânimo
e a sua alegria, guardando a suave herança de nossa Mãe Santíssima.
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Por
essa razão, irmãos meus, quando ouvirdes o cântico nos templos das diversas
famílias religiosas do Cristianismo, não vos esqueçais de fazer no coração um
brando silêncio, para que a Rosa Mística de Nazaré espalhe aí o seu perfume!