domingo, 27 de novembro de 2011

O testemunho a Tomé


Conta a narrativa de Marcos que, voltando Jesus de uma das suas excursões, se encaminhou para o território de Dalmanuta, onde vários fariseus se puseram a discutir com ele, para experimentá-la. Entremostrando a dor que lhe causava a incompreensão ambiente, o Mestre exclamou com a sua energia serena: – “Porque pede esta geração um sinal do céu?”.
Era freqüente buscarem o Messias com a preocupação exclusiva do maravilhoso. Alguns exigiam os milagres mais extravagantes, no ar, no firma-mento, nas águas, Jesus não afirmava ser o Filho de Deus?!... No exercício do seu ministério, não expulsara espíritos malignos, não curara paralíticos e leprosos? Os fariseus principalmente eram os que desejavam crer nos ensinamentos novos, mas, dentro das normas do velho egoísmo humano, reclamavam prévias compensações do sobrenatural ao apoio do dia seguinte.
De todos os discípulos, era Tomé o que mais se preocupava com a dilatarão, que lhe parecia necessária, da zona de influenciarão do Senhor junto dos homens considerados os mais importantes e os mais ricos. Não raro, insistia com Jesus para que atendesse às exigências dos fariseus bem aquinhoados de autoridade e de riqueza.
Naquele dia de breve repouso em Dalmanuta, o Mestre descansava na choupana de um velho pescador por nome Zacarias, quando o discípulo surgiu inesperadamente, reclamando-lhe a atenção nestes termos:
– Senhor, numerosos homens de importância estão na localidade e desejam o sinal de vossa missão divina.
Reparando que Jesus guardara silêncio, Tomé continuou a falar, desejoso de acender entusiasmo em torno do seu alvitre.
– São altos funcionários de Herodes, em companhia de doutores de Jerusalém, que excursionam por estas paragens... Além disso, estão acompanhados de patrícios romanos, interessados em conhecer o lago e as suas aldeias mais influentes. Esses viajantes ilustres fizeram-me portador de um. convite atencioso e amável, pois vos esperam em casa do centurião Cornélio Cimbro!...
Jesus, entretanto, depois de longo silêncio, no qual pareceu examinar detidamente a atitude mental do interlocutor, perguntou com serenidade, mas em tom algo doloroso:
– Que desejam de mim?
– Querem conhecer-vos, Mestre! – Replicou o apóstolo, mais confortado.
Não é necessário que me vejam a mim; mas, que sintam a verdade que trago de Nosso Pai.
– Redarguiu Jesus, com tranqüila firmeza.
Deixando transparecer o desgosto que aquela resposta lhe causava, Tomé insistiu:
– Mestre, Mestre, atendei-os!... Que será do Evangelho do Reino e de nós mesmos, sem o apoio dos influentes e prestigiosos? Acreditais na vitória sem o amparo das energias que dominam o mundo? Mostrai-vos a esses homens, revelai-lhes o vosso poder divino, pois ao demais, eles apenas desejam conhecer-vos de perto!...
– Tomé – exclamou o Senhor, com energia – Deus não exige que os homens o conheçam, senão no santuário do perfeito conhecimento de si mesmos. Eu venho de meu Pai e tenho de ensinar as suas verdades divinas. Nunca reclamei dos meus discípulos as suas homenagens pessoais, apenas tenho recomendado a todos que se amem, reciprocamente, através da vida!
E, desfazendo as ponderações descabidas do discípulo, continuou:
– Julga, então, que o Evangelho do Reino seja uma causa dos homens perecíveis? Se assim fosse, as nossas verdades seriam tão mesquinhas como as edificações precárias do mundo, destinadas à renovação pela morte, nos eternos caminhos do Tempo. Os patrícios romanos e os doutores de Jerusalém não terão de entregar a alma a Deus, algum dia? Quem será, desse modo, o mais forte e poderoso: Deus, que é o Pai de sabedoria infinita, na eternidade de sua glória, ou um César romano, que terá de rolar do seu trono enfeitado de púrpura, para o pó tenebroso da sepultura?
Tomé escutava-o, surpreso e entristecido; todavia, com o propósito de se justificar, acrescentou comovido:
– Mestre, compreendo as vossas observações divinas; no entanto, esses forasteiros desejavam apenas um sinal de Deus nos céus.
– Mas, se são incapazes de perceber a presença do Nosso Pai, como poderão reconhecer-lhe um simples sinal? – perguntou Jesus, com todo vigor da sua convicção – Os pais humanos sabem que sem o seu esforço, ou sem a generosa cooperação de alguém que os substitua, à frente da família, não será possível o desenvolvimento de seus filhos, no que se refere à assistência material; contudo, os homens do mundo encontram a casa edificada da natureza, com a exatidão de suas leis, e timbram sempre ir negar a assistência da Providência Divina. Vai, Tomé, e dize-lhes que o Evangelho do Reino não se destina aos que se encontrem satisfeitos e confortados na Terra; destina-se justamente aos corações que aspiram a uma vida melhor!
Ante a firmeza, das elucidações, o apóstolo não mais insistiu. Ainda, porém, interrogou, hesitante:
– Mestre, qual será então a nossa senha? Como provar às criaturas que o nosso esforço está com Deus?
– Uma só lágrima, que console e esclareça um coração atormentado – explicou Jesus – vale mais do que um sinal imenso no céu, destinado tão somente a impressionar os miseráveis sentidos da criatura. A nossa senha, Tomé, é a nossa própria exemplificação, na humildade e no trabalho. Quando quiseres esclarecer o espírito de alguém, nunca lhe mostres que sabes alguma coisa; sofre, porém, com as suas dores e colherás resultado. A redenção consiste em amar intensamente. Se te interessas por um amigo, suporta os seus infortúnios e imperfeições, anda em sua companhia nos dias amargos e dolorosos! O nosso sinal é o do amor que eleva e santifica, porque só ele tem a luz que atravessa os grandes abismos. Vai e não descreias, porque não triunfaremos no mundo somente pelo que fizermos, mas também pelo que deixarmos de fazer, no âmbito das suas falsas grandezas!...
***
Desde esse dia, o apóstolo Tomé reformou a sua concepção sobre as mensagens do céu, no capítulo dos milagres; entretanto, não conseguia escapar a pequeninas indecisões, em matéria de fé. Não podia excluir de sua imaginação o desejo de uma vitória ampla e fácil do Evangelho, pela renovação imediata do mundo.
Dentro em pouco, porém, a onda das perseguições vinha desfazer a suave e divina ventura. O Mestre fora preso. Com exceção de João, que se conservara junto de sua mãe, todos os discípulos se afastaram espavoridos.  Também ele não resistiu às grandes vacilações do triste momento. Debandara. Todavia, depois, sentira o coração pungido de remorsos acerbos. Almejava contemplar o Mestre querido, ouvir, se possível, pela última vez, uma palavra de exprobração dos seus lábios divinos. Disfarçando-se, então, de maneira a tornar-se irreconhecível, afim de se livrar das iras da multidão, incorporou-se, nas ruas movimentadas, ao ruidoso cortejo. Seu coração batia acelerado. Rompeu a massa popular e aproximou-se do Messias, que caminhava sob a cruz a passos vacilantes, seguido de perto pelos soldados que o protegiam contra os ataques da plebe. Sentiu que uma grande angústia lhe dilacerava as fibras mais delicadas da alma. Contudo, seguiu sempre, até que o madeiro se ergueu exibindo o sentenciado sob os raios do Sol claro, no topo de uma colina, como para apresentar o espetáculo às vistas do mundo inteiro.
Tomé contemplou fixamente o Mestre e notou que o espírito se lhe mantinha firme. Sua fisionomia serena, não obstante o martírio daquela hora, não refletia senão o amor profundo que lhe conhecera nos dias mais lindos e mais tranqüilos. Seus pés, que tanto haviam caminhado para a semeadura do bem, estavam ensangüentados. Suas mãos generosas e acariciadoras eram duas rosas vermelhas, gotejando o sangue do suplício. Sua fronte, em que se haviam abrigado os pensamentos mais puros do mundo, se mostrava aureolada de espinhos.
Tomé se pôs a chorar discretamente; logo, porém, como se o olhar do Mestre o buscasse, entre os milhares de criaturas reunidas, observou que Jesus o fitara e, magnetizado pela sua feição divina, avançou hesitante. Desejava escutar daqueles lábios adorados a reprovação franca e sincera que merecia o seu condenável procedimento, fugindo ao testemunho da hora extrema. Aproximou-se ofegante da cruz e, deixando perceber que apenas cedia a uma necessidade espiritual naquele instante supremo, ouviu Jesus dizer-lhe em voz quase imperceptível:
Tomé, no Evangelho do Reino, o sinal do céu tem de ser o completo sacrifício de nós mesmos!...
O apóstolo compreendeu-lhe as palavras e chorou amargamente.
***
Não obstante a advertência do Messias, feita do cimo da cruz da humilhação e do sofrimento, o discípulo continuava naquela atitude que se caracterizava por dúvidas quase invencíveis. Considerava o Cristo a mais alta figura da humanidade, em se tratando do amor que ilumina as estradas escabrosas da vida material; mas, no que se referia ao raciocínio, Tomé mantinha certas restrições. Sua alma se deixava empolgar por inúmeras indecisões, quando a notícia fulgurante da ressurreição estalou em Jerusalém, por entre vivas manifestações de alegria.
Maria de Magdala, Pedro, João, bem como outros companheiros, tinham visto o Senhor, tinham-lhe escutado a palavra consoladora e divina. Incerto de si mesmo, quase vencido na sua escassa fé, o discípulo procurou os amigos diletos, ansiando pela manifestação do Mestre adorado. Reunida a pequena comunidade, depois das preces habituais, Jesus penetrou na sala humilde com sereno sorriso, desejando aos companheiros paz e bom ânimo, como nos dias venturosos e risonhos da Galiléia. Tomé, sentindo o coração bater-lhe precipitado, ergueu os olhos. O Senhor, percebendo-lhe os pensamentos mais ocultos, aproximou-se do discípulo de fé vacilante e o convidou a tocar-lhe as chagas.
Depois de pronunciar as palavras que as narrativas apostólicas registraram, acrescentou bondosamente: – “Tomé, põe a tua mão nas minhas chagas e não te esqueças de que é o sinal!...”
Então, a razão fria do apóstolo notou que um clarão novo o invadia e lhe penetrava a alma. Compreendeu finamente que o martírio do coração que ama se reveste de misterioso poder. Tocado pela humildade do Mestre redivivo, prosternou-se e chorou. Suas lágrimas eram de ventura e lhe proporcionavam ao espírito um júbilo para cujo preço todos os tronos da Terra eram miseráveis e pequeninos. Sua alma acabava de vencer uma grande batalha. O coração triunfara do cérebro, o sentimento lhe acrisolara a fé.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

Estudo evangélico no lar


Continução do livro "Celeiro de Benção" , do espírito de Joanna de Ângelis,
psicografado por Divaldo Pereira Franco

Na expressiva república do lar, onde se produzem as experiências de sublimação, estabelece o estatuto do Evangelho de Jesus como diretriz de segurança e legislação de sabedoria, a fim de equilibrares e conduzires com retidão os que aí habitam em clima familial.
Semanalmente, em regime de pontualidade e regularidade, abre as páginas fulgurantes onde estão insculpidos os “ditos do Senhor” e estuda com o teu grupo doméstico as sempre atuais lições que convidam a maduras ponderações, de imediata utilidade.
Haurirás inusitado vigor que te fortalecerá do íntimo para o exterior, concitando-te à alegria. Compartirás, no exame das questões sempre novas na pauta dos estudos, dos problemas que inquietam os filhos e demais membros do clã, encontrando, pela inspiração que fluirá abundante, soluções oportunas e simples para as complexas dificuldades, debatendo com franqueza e honestidade as limitações e os impedimentos, que não raro geram atrito, estimulando animosidade no conserto de reparação na intimidade doméstica.
Penetrarás elucidações dantes não alcançadas, robustecendo o espírito para as conjunturas difíceis em que transitarás inevitavelmente.
Ensejar-te-ás diálogos agradáveis sob a diamantina claridade da fé e a balsâmica medicação da paz, estabelecendo vigorosos liames de entrosamento anímico e fraternal entre os participantes do ágape espiritual.
Dramas que surgem na família; incompreensões que se agravam; urdiduras traiçoeiras; pessoas e rampa de perigo iminente; enfermidades em fixação; cerco obsessivo constritor; suspeitas em desdobramento pernicioso; angústias em crises, a caminho do autocídio; inquietações de vária ordem em painéis de agressividade ou loucura recebem no culto evangélico do lar o indispensável antídoto com as conseqüentes reservas de esclarecimento e coragem para dirimir equívocos, finalizar  perturbações, predispor à paz e ajudar nos embates todos quantos aspirem à renovação, entusiasmo e liberdade.
Onde se acende uma lâmpada, coloca-se um impedimento à sombra e à desfaçatez. No lugar em que a ordem elabora esquema de produtividade, escasseia a incúria e se debilita a estroinice. O convite do Evangelho, portanto, - lâmpada sublime e lei dignificante - tem caráter primeiro. Da mesma forma que a enxada operosa requisita braços diligentes e a terra abençoada espera serviço de proteção e cultivo, a lavoura do bem entre os homens exige trabalho contínuo e operários especializados. Começa, desse modo, na família, a tua obra de extensão à fraternidade geral.
Inconseqüente arregimentar esforços de salvação externa e falires na intimidade doméstica, adiando compromissos.
Faze o indispensável, da tua parte, todavia, se os teus se negarem compartir o ministério a que te propões, a sós, reservadamente na limitação da tua peça de dormir, instala a primeira lâmpada de estudo evangélico e porfia... Se, todavia, os teus filhos estiverem, ainda, sob a tua tutela, não creias na validade do conceito de deixá-los ir, sem religião, sem Deus... Como lhes dás agasalho e pão, medicamento e instrução, vestuário e moedas, oferta-lhes, igualmente, o alimento espiritual, semeando no solo dos seus espíritos as estrelas da fé, que hoje ou mais tarde se transformarão na única fortuna de que disporão, ante o inevitável trânsito para o país do além-túmulo... Não te descures.
A noite da oração em família, do estudo cristão no lar, é a festiva oportunidade de conviver algumas horas com os Espíritos da Luz que virão ajudar-te nas provações purificadoras, em nome dAquele que é o Benfeitor Vigilante e Amigo de todos nós.

domingo, 20 de novembro de 2011

Joana de Cuza


(Continuação da leitura do Livro "Boa Nova" de Humberto de Campos  psicografada por Chico Xavier)
Entre a multidão que invariavelmente acompanhava a Jesus nas pregações do lago, achava-se sempre uma mulher de rara dedicação e nobre caráter, das mais altamente colocadas na sociedade de Cafarnaum. Tratava-se de Joana, consorte de Cuza, intendente de Antipas, na cidade onde se conjugavam interesses vitais de comerciantes e de pescadores.

Joana possuía verdadeira fé; entretanto, não conseguiu forrar-se às amarguras domésticas, porque seu companheiro de lutas não aceitava as claridades do Evangelho. Considerando seus dissabores íntimos, a nobre dama procurou o Messias, numa ocasião em que ele descansava em casa de Simão e lhe expôs a longa série de suas contrariedades e padecimentos. O esposo não tolerava a doutrina do Mestre. Alto funcionário de Herodes, em perene contato com os representantes do Império, repartia as suas preferências religiosas, ora com os interesses da comunidade judaica, ora com os deuses romanos, o que lhe permitia viver em tranqüilidade fácil e rendosa. Joana confessou ao Mestre os seus temores, suas lutas e desgostos no ambiente doméstico, expondo suas amarguras em face das divergências religiosas existentes entre ela e o companheiro.
Após ouvir-lhe a longa exposição, Jesus lhe ponderou:
– Joana, só há um Deus, que é o Nosso Pai, e só existe uma fé para as nossas relações com o seu amor. Certas manifestações religiosas, no mundo, muitas vezes não passam de vícios populares nos hábitos exteriores. Todos os templos da Terra são de pedra; eu venho, em nome de Deus, abrir o templo da fé viva no coração dos homens. Entre o sincero discípulo do Evangelho e os erros milenários do mundo, começa a travar-se o combate sem sangue da redenção espiritual. Agradece ao Pai o haver-te julgado digna do bom trabalho, desde agora. Teu esposo não te compreende a alma sensível? Compreender-te-á um dia. É leviano e indiferente? Ama-o, mesmo assim. Não te acharias ligada a ele se não houvesse para isso razão justa. Servindo-o com amorosa dedicação, estarás cumprindo a vontade de Deus. Falas-me de teus receios e de tuas dúvidas. Deves, pelo Evangelho, amá-la ainda mais. Os sãos não precisam de médico. Além disso, não poderemos colher uvas nos abrolhos, mas podemos amanhar o solo que produziu cardos envenenados, afim de cultivarmos nele mesmo a videira maravilhosa do amor e da vida.
Joana deixava entrever no brilho suave dos olhos a íntima satisfação que aqueles esclarecimentos lhe causavam; mas, patenteando todo o seu estado dalma, interrogou :
– Mestre, vossa palavra me alivia o espírito atormentado; entretanto, sinto dificuldade extrema para um entendimento recíproco no ambiente do meu lar. Não julgais acertado que lute por impor os vossos princípios? Agindo assim, não estarei reformando o meu esposo para o céu e para o vosso reino?
O Cristo sorriu serenamente e retrucou:
– Quem sentirá mais dificuldade em estender as mãos fraternas, será o que atingiu as margens seguras do conhecimento com o Pai, ou aquele que ainda se debate entre as ondas da ignorância ou da desolação, da inconstância ou da indolência do espírito? Quanto à imposição das idéias – continuou Jesus, acentuando a importância de suas palavras – por que motivo Deus não impõe a sua verdade e o seu amor aos tiranos da Terra? Por que não fulmina com um raio o conquistador desalmado que espalha a miséria e a destruição, com as forças sinistras da guerra? A sabedoria celeste não extermina as paixões: transforma-as. Aquele que semeou o mundo de cadáveres desperta, às vezes, para Deus", apenas com uma lágrima. O Pai não impõe a reforma a seus filhos: esclarece-os no momento oportuno. Joana, o apostolado do Evangelho é o de colaboração com o céu, nos grandes princípios da redenção. Sê fiel a Deus, amando ao teu companheiro do mundo, como se fora teu filho. Não percas tempo em discutir o que não seja razoável. Deus não trava contendas com as suas criaturas e trabalha em silêncio, por toda a Criação. Vai!... Esforça-te também no silêncio e, quando convocada ao esclarecimento, fala o verbo doce ou enérgico da salvação, segundo as circunstâncias! Volta ao lar e ama ao teu companheiro como o material divino que o céu colocou em tuas mãos para que talhes uma obra de vida, sabedoria e amor!...
Joana do Cuza experimentava um brando alívio no coração. Enviando a Jesus um olhar de carinhoso agradecimento, ainda lhe ouviu as últimas palavras:
– Vai, filha!... Sê fiel!
***
Desde esse dia, memorável para a sua existência, a mulher de Cuza experimentou na alma a claridade constante de uma resignação sempre pronta ao bom trabalho e sempre ativa para a compreensão de Deus, como se o ensinamento do Mestre estivesse agora gravado indelevelmente em sua alma, considerou que, antes de ser esposa na Terra, já era filha daquele Pai que, do Céu, lhe conhecia a generosidade e os sacrifícios. Seu espírito divisou em todos os labores uma luz sagrada e oculta.
Procurou esquecer todas as características inferiores do companheiro, para observar somente o que possuía ele de bom, desenvolvendo, nas menores oportunidades, o embrião vacilante de suas virtudes eternas. Mais tarde, o céu lhe enviou um filhinho, que veio duplicar os seus trabalhos; ela,  porém, sem olvidar as recomendações de fidelidade que Jesus lhe havia feito, transformava suas dores num hino de triunfo silencioso em cada dia.
Os anos passaram e o esforço perseverante lhe multiplicou os bens da fé, na marcha laboriosa do conhecimento e da vida. As perseguições políticas desabaram sobre a existência do seu companheiro. Joana, contudo, se mantinha firme. Torturado pelas idéias odiosas de vingança, pelas dívidas insolváveis, pelas vaidades feridas, pelas moléstias que lhe verminaram o corpo, o ex-intendente de Antipas voltou ao plano espiritual, numa noite de sombras tempestuosas. Sua esposa, todavia, suportou os dissabores mais amargos, fiel aos seus ideais divinos edificados na confiança sincera. Premida pelas necessidades mais duras, a nobre dama de Cafarnaum procurou trabalho para se manter com o filhinho, que Deus lhe confiara! Algumas amigas lhe chamaram a atenção, tomadas de respeito humano. Joana, no entanto, buscou esclarecê-las, alegando que Jesus, igualmente, havia trabalhado, calejando as mãos nos serrotes de uma carpintaria singela e que, submetendo-se ela a uma situação de subalternidade no mundo, se dedicara primeiramente ao Cristo, de quem se havia feito escrava devotada.
Cheia de alegria sincera, a viúva de Cuza esqueceu o conforto da nobreza material, dedicou-se aos filhos de outras mães, ocupou-se com os mais subalternos afazeres domésticos, para que seu filhinho tivesse pão. Mais tarde, quando a neve das experiências do mundo lhe alvejou os primeiros anéis da fronte, uma galera romana a conduzia em seu bojo, na qualidade de serva humilde.
***
No ano 68, quando as perseguições ao Cristianismo iam intensas, vamos encontrar, num dos espetáculos sucessivos do circo, uma velha discípula do Senhor amarrada ao poste do martírio, ao lado de um homem novo, que era seu filho.
Ante o vozerio do povo, foram ordenadas as primeiras flagelações.
– Abjura!... – Exclama um executar das ordens imperiais, de olhar cruel e sombrio. Mas, a antiga discípula ao Senhor contempla o céu, sem uma palavra de negação ou de queixa. Então o açoite vibra sobre o rapaz seminu, que exclama, entre lágrimas: – “Repudia a Jesus, minha mãe!... Não vês que nos perdemos?! Abjura!... por mim que sou teu filho!...”
Pela primeira vez, dos olhos da mártir corre a fonte abundante das lágrimas. As rogativas do filho são espadas de angústia que lhe retalham o coração.
– Abjura!... Abjura!
Joana ouve aqueles gritos, recordando a existência inteira. O lar risonho e festivo, as horas de ventura, os desgostos domésticos, as emoções maternais, os fracassos do esposo, sua desesperação e sua morte, a viuvez, a desolação e as necessidades mais duras... Em seguida, ante os apelos desesperados do filhinho, recordou que Maria também fora mãe e, vendo o seu Jesus crucificado no madeiro da infâmia, soubera conformar-se com os desígnios divinos. Acima de todas as recordações, como alegria suprema de sua vida, pareceu-lhe ouvir ainda o Mestre, em casa de Pedro, a lhe dizer: – “Vai filha! Sê fiel!” Então, possuída de força sobre-humana, a viúva de Cuza contemplou a primeira vítima ensangüentada e, fixando no jovem um olhar profundo e inexprimível, na sua dor e na sua ternura, exclamou firmemente:
– Cala-te, meu filho! Jesus era puro e não desdenhou o sacrifício. Saibamos sofrer na hora dolorosa, porque, acima de todas as felicidades transitórias do mundo, é preciso ser fiel a Deus!
A esse tempo, com os, aplausos delirantes do povo, os verdugos incendiavam, em derredor, achas de lenha embebidas em resina inflamável.Em poucos instantes, as labaredas lamberam-lhe o corpo envelhecido. João de Cuza contemplou, com serenidade, a massa de povo que lhe não entendia o sacrifício. Os gemidos de dor lhe morriam abafados no peito opresso. Os algozes da mártir cercaram-lhe de impropérios a fogueira:
– O teu Cristo soube apenas ensinar-te a morrer? – Perguntou um dos verdugos.
A velha discípula, concentrando a sua capacidade de resistência, teve ainda forças para murmurar :
– Não apenas a morrer, mas também a vos amar!...
Nesse instante, sentiu que a mão consoladora do Mestre lhe tocava suavemente os ombros, e lhe escutou a voz carinhosa e inesquecível:
– Joana, tem bom ânimo!... Eu aqui estou! ...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Capítulo 1 - Se tiveres amor


Continução do livro "A Religião dos Espíritos" , pelo espírito de Emmanuel,
psicografado por Francisco Cândido Xavier

Questão nº 887 do Livro dos Espíritos: "Jesus também disse: Amai mesmo os vossos inimigos. Ora, o amor aos inimigos não será contrário às nossas tendências naturais e a inimizade não provirá de uma falta de simpatia entre os Espíritos?
Certo ninguém pode votar aos seus inimigos um amor terno e apaixonado. Não foi isso o que Jesus entendeu de dizer. Amar os inimigos é perdoar-lhes e lhes retribuir o mal com o bem. O que assim procede se torna superior aos seus inimigos, ao passo que abaixo deles se coloca, se procura tomar vingança.”

Reunião pública de 5/1/59
Questão 887
Se tiveres amor, caminharás no mundo como alguém que transformou o próprio coração em chama divina a dissipar as trevas...
Encontrarás nos caluniadores almas invigilantes que a peçonha do mal entenebreceu, e relevarás toda ofensa com que te martirizem as horas...
Surpreenderás nos maldizentes criaturas desprevenidas que o veneno da crueldade enlouqueceu, e desculparás toda injúria com que te deprimam as esperanças...
Observarás no onzenário a vitima da ambição desregrada, acariciando a ignomínia da usura em que atormenta a si próprio, e no viciado o irmão que caiu voluntariamente na poça de fel em que arruína a si mesmo...
Reconhecerás a ignorância em toda manifestação contrária à justiça e descobrirás a miséria por fruto dessa mesma ignorância em toda parte onde o sofrimento plasma o cárcere da delinqüência, o deserto do desespero, o inferno da revolta ou o pântano da preguiça...
Se tiveres amor saberás, assim, cultivar o bem, a cada instante, para vencer o mal a cada hora...
E perceberás, então, como o Cristo fustigado na cruz, que os teus mais acirrados perseguidores são apenas crianças de curto entendimento e de sensibilidade enfermiça, que é preciso compreender e ajudar, perdoar e servir sempre, para que a glória do amor puro, ainda mesmo nos suplícios da morte, nos erga o espírito imperecível à bênção da vida eterna.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Religião dos Espíritos - Introdução

“Religião dos Espíritos”
Pelo Espírito: EMMANUEL
Francisco Cândido Xavier


Leitor amigo:
Temos aqui um livro diferente.
Nem literatura, nem artifício.
Nem propaganda, nem exegese.
Simples comentário em torno da substância religiosa de “O Livro dos Espíritos”, em cujo texto fixou Allan Kardec a definição da Nova Luz.
Desde muito, aspirávamos a realizá-lo, e isso, com a permissão do Senhor, nos foi possível, no curso das 91 sessões públicas para estudo da Doutrina Espírita, a que comparecemos, junto de nossos companheiros uberabenses, no transcurso de 1959, na sede da Comunhão Espírita Cristã, nesta Cidade.
Em cada reunião, o texto para exame foi escolhido pelos nossos irmãos encarnados e, depois de apontamentos verbais entre eles, tecemos as modestas anotações aqui expostas, nem sempre nos restringindo, diante de circunstâncias especiais e imprevistas, ao tema em estudo.
Algumas foram publicadas em “Reformador”, revista da nossa venerável “Federação Espírita Brasileira”, e algumas outras nos jornais “A Flama Espírita” e “Lavoura e Comércio”, folhas da cidade de Uberaba.
Reunindo, porém, a totalidade de nossas humildes apreciações, neste volume, fizemos pessoalmente integral revisão de todas elas, assinalando-as com a ordem cronológica em que foram grafadas e na pauta das perguntas e respostas que “O Livro dos Espíritos” nos apresentava.
Não temos, pois, outro objetivo que não seja demonstrar a nossa necessidade de estudo metódico da obra de Kardec, não só para lhe penetrarmos a essência redentora, como também para que lhe estendamos a grandeza em novas facetas do pensamento, na convicção de que outros companheiros de tarefa comparecerão à liça, suprindo-nos as deficiências naturais, com estudos mais altos dos temas renovadores trazidos ao mundo pelo apóstolo de Lião.
E aguardando por essas contribuições, na sementeira da fé viva, cremos poder afirmar, com o titulo deste volume, que o primeiro livro da Codificação Kardequiana é manancial tão rico de valores morais para o caminho humano que bem pode ser considerado não apenas como revelação da Esfera Superior, mas igualmente como primeiro marco da Religião dos Espíritos, em bases de sabedoria e amor, a refletir o Evangelho, sob a inspiração de Nosso Senhor Jesus Cristo.
EMMANUEL
Uberaba, 29 de janeiro de 1960

terça-feira, 15 de novembro de 2011

Capítulo 1 - Orando no Natal


 Continução do livro "Celeiro de Benção" , do espírito de Joanna de Ângelis,
psicografado por Divaldo Pereira Franco
Senhor!
Enquanto vibram as emoções festivas e muitos homens se banqueteiam, evocando aquele Natal que Te trouxe à Terra, recolhemo-nos em silêncio para orar.
Há tanta dor no mundo Senhor! Os canhões calam os seus troares, momentaneamente; as bombas destruidoras cessam de cair por alguns instantes, nos países em guerra, enquanto nós oramos pelos que mercantilizam vidas, fomentando conflitos e beligerâncias outras; pelos que escorcham as populações esfaimadas sob leis impiedosas e escravizantes; pelos que se comprazem, como se fossem abutres em forma humana, com a renda nefanda das casas do comércio carnal; pelos que exploram os vícios e acumulam usuras com o fruto da alucinação de obsidiados ignorantes da própria enfermidade; pelos que malsinam moçoilas e rapagotes inexperientes, deslumbrados com o fastígio mentiroso da ilusão; pelos que difundem a literatura perversa e favorecem a divulgação da criminalidade; pelos que fazem enlouquecer, através dos processos escusos, decorrentes da cultura que perverte mentes e corações; pelos que se locupletam com as moedas adquiridas mediante o infanticídio hediondo; pelos que dormem para a dignidade e sorriem nos pesadelos do torpor moral, que os invadem!
Senhor!
Diante das crianças tristonhas e dos velhinhos estropiados, dos enfermos ao abandono e dos atormentados à margem da sociedade, lembramo-nos de rogar por todos eles, mas não nos esquecemos de Te suplicar pelos causadores da miséria e do infortúnio.
 “Não sabem o que fazem!” - perdoa-os Senhor! Neste Natal, evocando o momento em que as Altas Esferas seguiram contigo à Terra, até o singelo recinto de animais, para o Teu mergulho na névoa dos homens, espace, novamente, misericórdia e esperança para todos, a fim de que o Ano Novo seja, para sofredores e responsáveis pelo sofrimento, a antemanhã da Era do Espírito Imortal de que Te fizeste paradigma após o martírio da Cruz.

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